2004-10-27

UM ANO QUE VALEU A PENA

Encontrei este título, a propósito de outro tema e de outro acontecimento, e vale a pena pegar nele. Refiro-me ao 1º aniversário da página da Internet do Lar dos Estudantes Vicentinos, da Estrada da Luz, Lisboa.
A PPCM, a Família Vicentina como tal, as comunidades ou os serviços vão-se dando a conhecer, ou dão informações, através da escrita tradicional ou por mensagens. Não existe um serviço contínuo de informação, comunicação ou reflexão a não ser nos boletins oficiais.
Confesso que não sou um convertido à comunicação via Internet, nem sou capaz de navegar, sozinho, neste espaço.
Quando surgiu a ideia e se começaram a dar os primeiros passos para a sua concretização, pensei que fosse uma iniciativa momentânea que, por causa do trabalho, da exigência e da responsabilidade, seria abandonada ou esquecida, logo de seguida. Enganei-me… e ainda bem!
Oiço muita gente a falar dela, dos seus conteúdos, notícias, desafios e propostas. São confrades, membros da Família Vicentina, familiares e amigos dos nossos e outra gente que, pelos mais diversos motivos, tem o nosso endereço e, não só acompanha o nosso dia a dia, como vai dando o seu contributo para o enriquecimento deste meio de comunicação e de comunhão.
Já estava convencido disso, mas mais convencido fiquei quando, um destes dias, visitei o Presídio Militar de Tomar e vi uma referência aos conteúdos da nossa página e um artigo sobre S. Vicente de Paulo, na 3ª página do Jornal “Um Amanhã…” daquela instituição militar.
Questionei um dos responsáveis do Conselho Pastoral da Capelania Prisional que me testemunhou, diante dos comandantes e reclusos que, todos os dias, entram nesta página virtual para inspiração, conhecimento e também, pela recolha de material, para a publicação do “seu Amanhã”.
Estava à espera de tudo, mas deste trabalho silencioso da nossa página, nem por sombras!
Gostei de visitar os reclusos e um local onde já trabalhei. Fiquei muito feliz por descobrir que um trabalho que poderia ser feito apenas para consumo interno, vai servindo de apoio, de luz, de inspiração a uma comunidade de características especiais, como esta, a do Presídio Militar de Tomar.
Valeu a pena a aposta, o esforço, a teimosia e a persistência!... Vale a pena, mesmo que seja só por causa deste episódio!...

Pe. Agostinho

2004-10-25

Teologia da Libertação

As iluminações de Natal estão quase prontas e vão ser, mais uma vez, um fascínio, sobretudo, para as crianças. Numa volta pela Baixa de Lisboa, fiquei pensativo. Afinal, só no dia 28 de Novembro é que começa o Advento... e faltam ainda dois meses para o Natal.
Entrei na Livraria dos Paulistas, para ver as novidades. Tudo cheio de CDs, de livros e de postais de Natal, até nas montras. Perguntei se não teriam uns postais de Advento. Que não. Também me interessei por música, cânticos de Advento. Muito pouco, quase nada, uns CDs com cânticos gregorianos e uma cassete com cânticos da Senhora.

Em breve, durante o tempo do Advento, como numa liturgia, nas diversas paróquias, lá virão as homilias rituais a criticar o consumismo. Mas, essas mesmas paróquias estarão, ao mesmo tempo, tempo de Advento, a organizar festas de Natal, a distribuir presentes “profanos” às crianças e idosos, a fazer “vendas de natal”...

Será que as comunidades cristãs já cederam definitivamente ao consumismo e, pior que isso, pensam que ser pobre e morrer de fome é apenas uma fatalidade? Mas, em cada pessoa que, no mundo, morre de fome é Cristo que volta a morrer (“tive fome e deste-me de comer”)...

E nós, os vicentinos?
A chamada “teologia da libertação”, bem amada do vicentino Hélder da Câmara, propõe alternativas à ordem económica selvagem que domina o nosso mundo. Sei que houve um ou outro desvio desta teologia, mas também houve muitíssimos desvios da teologia tradicional, condenados por Papas e Concílios.

Se me fosse permitido, sugeria que, por exemplo, os nossos estudantes de teologia e os nossos noviços, se interessassem mais, muito mais, pela Doutrina Social da Igreja e pela Teologia da Libertação. É que a caridade só será autêntica se unida à justiça...

Vicente

2004-10-22

«Burned out»

Os ingleses descobriram um novo sindroma que denominaram de «burned out» (queimados). Segundo os estudiosos, esta epidemia afecta principalmente aqueles/as que ocupam cargos directivos tais como gestores, directores, presidentes, visitadores (para adaptar à nossa realidade), etc.

A queimadura, segundo parece, tem uma dupla vertente: pessoal e comunitária. Pessoal porque os lesados apresentam grandes níveis de stress e um considerável desgaste psicológico; comunitária porque essas pessoas, em geral, são evitadas e marginalizadas pelos colegas de trabalho. Por estas razões, no mundo empresarial, só com um bom estimulo monetário se aceita desempenhar tais funções. E entre nós, que tipos de estímulos são oferecidos aos candidatos à queimadura?

David

BORBOLETA AZUL

Havia um viúvo que morava com as suas duas filhas, curiosas e
inteligentes.
As meninas faziam sempre muitas perguntas.
A algumas, ele sabia responder, a outras não.
Como pretendia oferecer-lhes a melhor educação, mandou-as
passar férias com um sábio que morava no alto de uma colina.
O sábio sempre respondia a todas as perguntas sem hesitar.
Impacientes com o sábio, as meninas resolveram inventar uma
pergunta a que ele não soubesse responder. Então, uma delas
apareceu com uma linda borboleta azul que usaria para pregar
uma rasteira ao sábio.
- O que vais fazer? - perguntou a irmã.
- Vou esconder a borboleta nas minhas mãos e perguntar-lhe se ela está viva ou morta.
- Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e
deixá-la voar. Se ele disser que esta viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o sábio
nos der estará errada!
As duas meninas foram então ao encontro do sábio que estava
meditando.
- Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me, sábio, ela está viva ou morta
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
- Depende de ti...ela está nas tuas mãos.
Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro.
Não devemos culpar ninguém quando algo não dá certo.
Somos nós os primeiros responsáveis por aquilo que conquistamos (ou não conquistamos), mesmo que acreditemos que Deus reservou para Si uma palavra...
A nossa vida está nas nossas mãos, como a da borboleta azul...
Cabe-nos escolher o que fazer com ela.

2004-10-10

Resposta ao David

Caríssimo David
É um sinal de esperança quando gente jovem continua a ter utopias e a sonhar com uma igreja verdadeiramente fraterna, em que, por exemplo, a autoridade seja mesmo um serviço, na linha daquilo que Jesus nos ensinou.
É sabido que Jesus não organizou os discípulos. Depois da Páscoa e do Pentecostes, eles sentiram que tinham de fazer alguma coisa...
A primeira forma de organização tem sabor judaico. Assim, aparece o grupo dos doze, com Pedro à cabeça, talvez porque gozava da confiança do Mestre. Quando o Evangelho ultrapassou as fronteiras de Israel, os discípulos inspiraram-se nos modelos da sociedade civil greco-romana do seu tempo e apareceram os diáconos, os presbíteros, os epíscopos...
É um estudo interessante este de como foi vista a autoridade nas comunidades cristãs durante estes séculos todos, a influência que exerceram as culturas nas quais a Igreja se foi inserindo, esquecendo, muitas vezes, o tal carácter de serviço que deve ter a autoridade, tanto na Igreja como na sociedade.
O Vaticano II deu passos em frente, querendo voltar ao pensamento de Jesus. Alguma coisa já foi corrigida. Assim, Papa abandonou a tiara, os bispos abandonaram alguns títulos profanos (por exemplo, em Coimbra, o título de bispo-conde), embora subsistam muitos títulos sem sentido (ex.mo e rev.mo, Dom, para os bispos, etc. etc.) ou, então, com o sentido de sugerir que a autoridade é mais do que um ministério...
Temos de ser bem conscientes que não é fácil encontrar critérios infalíveis para a escolha dos que devem exercer a autoridade na Igreja Universal e nas comunidades cristãs. Uma coisa é certa, assim não está bem e não corresponde ao pensamento de Jesus e dos Apóstolos. A Igreja só perde em ser vista como uma multinacional... É urgente mudar a maneira de escolher o Papa, os bispos, os párocos, mesmo correndo riscos...
Se os primeiros discípulos se inspiraram na sociedade civil do seu tempo, poderíamos, também agora, inspirar-nos nos aspectos positivos das sociedades democráticas dos tempos de hoje para escolhermos os nossos animadores, árbitros, conselheiros. Se a autoridade é um serviço, se, como diz S.Paulo, “quem deseja o episcopado, deseja uma coisa boa”, é, por exemplo, inacreditável que, no nosso caso concreto, não se peça para haver candidatos, programas...e que nos apresentem uma lista de nomes, alguns dos quais vivem num Lar de Idosos... e outros, a maior parte, que não tem condições de idade e de saúde, etc., para aceitar...
O futuro animador terá de rever esta situação concreta e todos nós, sobretudo os mais novos, devemos interessar-nos numa nova visão da autoridade na Igreja, na linha do pensamento de Jesus, até para sermos credíveis. Já era tempo de darmos exemplo à sociedade civil. Mas ainda estamos na fase de aprender com ela a democracia... Que pena!...
Parabéns, David. Continua a atirar pedras para o charco!
Um abraço
ALFA

2004-10-09

O PS e a PPCM - IIª parte.

Como ia dizendo (e sinto que devo continuar a dizer), talvez para alguns, a apresentação de propostas seria uma vaidade imperdoável para uma instituição como a nossa, de carácter religioso, cristão. Seguindo o mesmo espírito, não se discorda frontalmente porque parece mal e pouco “evangélico”. Prefere-se, pelo contrário, as conversas de bastidores que só radicalizam posições.

Como consequência, o mais natural é que o homem que aceitar liderar um grupo destes, terá pela frente a oposição frontal que só nesta fase entra em acção. Os sorrisos tornam-se amargos de boca, e as palmadinhas nas costas, facadas.

Ainda esta semana líamos um relato de São Paulo em que ele abertamente dizia que se tinha debatido contra Pedro, o líder da Igreja, por causa das suas atitudes pouco coerentes. E a história da Igreja está cheia de exemplos de homens bons e santos que, em vez de ficarem a contemplar o céu, denunciaram as incoerências, inclusive da Igreja institucional, em nome de Jesus.

Não seria mais coerente, lógico que nós soubéssemos de antemão em quê que vamos votar? O que é que os candidatos a visitadores pensam sobre a casa X?, como pensam resolver o problema Y?, etc, etc... será estamos presos pelo medo? Porquê?


Meu caro SVP, “gracias” pelo teu comentário. Nota-se que ainda és jovem e (ainda) estás fora deste mundo. Mas logo verás (assim Deus queira) que não bastam boas intenções: «há que... há que...». Precisamos, de facto, de uma politica, no seu sentido autêntico, (não politiquice), isto é, arte de saber governar e capacidade de gerir os meios em vista a realização de determinados objectivos. Talvez também nos faça falta aquela esperteza do filhos das trevas de que nos fala o Evangelho.

Crê-me que acredito que podemos e devemos fazer melhor.

David

2004-10-08

Francisco e Bruno: “a dupla da semana”

Durante esta semana do mês de Outubro (04 – 09) tivemos a oportunidade de celebrar e conhecer melhor estes dois Santos que a Igreja faz memória: S. Francisco de Assis (04.10) e S. Bruno (06.10).
Meditando um pouco mais profundamente sobre a sua vida, pude verificar que, cada um, no seu devido tempo, esteve muito atento à situação do mundo e da Igreja e, simultaneamente, foram capazes de responder às necessidades e aos desafios que iam surgindo.
Certamente não estarei a dar ou a chegar a nenhuma conclusão que já não conheçam. No entanto, o seu exemplo, assim como de inúmeras pessoas a quem chamamos Santos, devem, nos dias de hoje, significar algo para a nossa vida.
Que resposta damos aos desafios que hoje enfrentamos? Contribuímos com algo de novo à sociedade onde vivemos?
Uma pequena reflexão que nos pode ajudar a ter presente que, como Vicentinos, ainda podemos contribuir com um ideal ao mundo que é o testemunho de Jesus Cristo, evangelizador dos pobres.

Jerónimo

2004-10-07

Anónimo...

Outro dia, à entrada de uma das Igrejas de Lisboa, encontrei numa pequena folha “uns pensamentos” que gostaria de partilhar convosco. Não é propriamente uma oração, nem muito menos uma daquelas tristes receitas que tantas vezes são colocadas nas nossas Igrejas assegurando que se cumprimos o que está escrito, como que por magica venceremos a lotaria. Dessas “correntes” livrai-nos Senhor!
Esta é diferente. Os comentários ficam à mercê do leitor.


«Aprende a descobrir o melhor de ti mesmo e dos outros.
Não sofras pelos teus limites.
Não te compares aos outros.
Reforça aquilo que há de original em ti,
Aquilo que as pessoas apreciam.
Não sofras pelos limites
E deficiências de quem vive ao teu redor.
Repara no que de bom e positivo há em cada ser humano
».
(Anónimo)

Com um abraço
David

2004-10-05

O PS e a PPCM

Iª Parte

NO PS
Os meios de comunicação social, nas ultimas semanas, noticiaram até a exaustão o debate interno entre os três candidatos à liderança do principal partido da oposição. Durante dias a fio, de norte a sul do país, os candidatos e seus apoiantes esgrimiram argumentos e apresentaram propostas para a solucionar os problemas concretos do país. A rivalidade entre as três candidaturas desvaneceu-se logo que foi eleito o novo líder. Os vencidos até prometeram colaborar e, de novo, o partido estava unido para as novas batalhas que se avizinham.

Na PPCM
Salvando algumas diferenças, o processo é quase inverso: somos todos amigos uns dos outros e estamos unidos, prontos para colaborar no que vier. Contudo, perante um determinado problema, dificilmente se faz um debate sério tendo por base propostas concretas que pudessem ser avaliadas e referendadas pelo eleitorado.

Como o PS andamos à procura de líder. No PS houve um debate sério e transparente entre as diferentes visões políticas. E na PPCM?

(Continua...)

David

2004-10-04

Francisco de Assis

Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa paz !
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz !

Ó Mestre,
fazei que eu procure mais.
Consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar, que ser amado.

Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna !

Francisco de Assis

2004-10-01

Outubro

«Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, o meu Deus, foste Vós que mo destes... No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor....»
(Teresa do Menino Jesus)

O primeiro dia do mês de Outubro é assinalado na Igreja com a memória da “grande” St. Teresa do Menino Jesus. Curiosamente é também neste mês que se celebra a memória de outras grandes personagens da história da espiritualidade cristã no ocidente: Teresa de Jesus e Francisco de Assis.
Gosto em especial de St. Teresa do Menino Jesus porque, entre outras coisas, ela intuiu aquilo que na Igreja era e continua a ser fundamental: o AMOR. Numa época em que predominava uma espiritualidade de tons ascéticos, Teresa vai ao essencial, ao motor que animou todos os santos, conhecidos e desconhecidos. Ela compreendeu que o essencial é amar.
St. Teresa diz-nos que a santidade a que nós somos chamados é, pois, o “prémio” e o reconhecimento público de uma intensa “vida amorosa”. Mais do que fazer grandes coisas e independentemente do que é feito, o importante é ser expressão de um amor sem limites.
Oxalá a Igreja seja sempre expressão desse amor...

David