2005-03-26

Festa

Era...
Era eu!...
Débil e ténue
De mãos recostadas
No conforto inconsolável
Dos perfumes mudos de dor...

Eras...
Eras Tu!...
Que descias nas cascatas
Das minhas lágrimas
Que galgavam como lanças
Em dias de combate...

Era...
Era eu!...
Fortaleza em ruínas
Sentinela do vazio
Gemido balbuciante que fervilha
“ Levaram o meu Senhor...”

Eras...
Eras Tu!...
Na neblina da minha procura
No milagre do amor
No coração festivo
Que a vida celebrou... “Mestre”.

Era... Era o silêncio efémero do sepulcro
Num hino retumbante de Vitória.

Joao Luís Silva CM

Homilia de Sexta -Feira Santa

Meus queridos irmãos e irmãs
Estamos aqui reunidos, unicamente porque o amor de Deus nos une e reúne, neste mistério que hoje celebramos que é a paixão e a morte do Senhor Jesus. Por isso mesmo só o silêncio orante de quem reza faz sentido.
É perante a cruz do Filho de Deus que descobrimos, quem somos, donde vimos e para onde vamos, a cruz de Cristo diz-nos quanto valemos aos olhos de Deus, e sabemos que valemos tudo.
A leitura do Livro do profeta Isaías que escutamos, fala-nos desse: “rosto desfigurado que tinha perdido a aparência humana, acostumado ao sofrimento”. Fala-nos desse vazio, que é a vida entregue, dentro da qual Deus constrói um mundo novo, vazio de egoísmo e poder para que o amor de Deus possa vir em cheio.
Só assim percebemos, que a cruz de Cristo é para nós sinal da presença amorosa de Deus, é a chave que desvenda e ilumina os mistérios da vida, da nossa vida e do nosso dia-a-dia.
Todos nós já fizemos a experiência do Jardim das Oliveiras, do abandono da solidão. Quantas vezes nos sentimos rejeitados, maltratados e sós.
Quantas vezes clamamos: Porquê Senhor, porquê tenho de sofrer?
Porque amamos e porque Deus nos ama.
“Amar é sofrer e sofrer é Amar”.
Esta a experiência de quem caminha com Jesus e para Jesus, porque Ele próprio deu a vida por nós.
E vós pais e mães de família, bem sabeis como isso é.
Quantas vezes vos rejeitastes para vos dardes aos vossos filhos.
E vós filhos quantas vezes o fizestes pelos a vossos pais já idosos e doentes.
Foi para sofrer?
Não!
Foi por amor, foi para não ver sofrer.
Esta é a mensagem da cruz do Senhor, nela fazemos a experiência de amar e dar a vida, é ai que experimentamos que o: “Seu jugo é suave e a Sua carga é leve”, porque Ele próprio a suporta connosco.
É esta capacidade de ir mais longe de ir até ao fim, como cantávamos no Salmo 22: “Meu Deus meu Deus porque me abandonaste”. Não é sentir-se abandonado por Deus, mas é fazer a experiência de todos os abandonados, que Cristo em Si transformou em Paz e em sinal de vitória.
Meus queridos irmãos e irmãs, pelo Evangelho sabemos que junto de Jesus no Monte Calvário estavam mais dois crucificados (o bom e o mau ladrão). Esses crucificados representam a humanidade inteira, somos nós nesta capacidade de dar a vida ou de a reter.
Percebemos também que ontem como hoje, Jesus nos quer no cimo da montanha e ao Seu lado para nos dar um Reino que é Ele próprio, percebemos ainda que em cada crucificado do mundo está Jesus.
Nesta Sexta-feira Santa meus irmãos o caminho de Jesus é o caminho que se oculta na esperança, e que nos torna peregrinos, é o caminho de Maria, que do caminho do Calvário, fez caminho para o coração de seu filho e para cada um de nós, como Mãe da humanidade.
Este é o nosso caminho, caminho de comunhão e salvação, de evangelização de vida.
Meus queridos amigos mergulhados neste mistério que é a cruz do Senhor só nos resta contemplar e exclamar: “Faz-nos morrer Senhor para que possamos nascer de novo para a vida nova que és Tu.
Celebramos hoje a morte do Senhor Jesus, certamente sentimo-nos comovidos não tanto porque o Filho de Deus morreu, mas sim porque foi por nós e para nós e porque o seu: “Amor permanece para sempre”.



João Luís Silva CM
Igreja de S. Tomás de Aquino – Lisboa

2005-03-24

«Eu dei-vos o exemplo...»

Já amaste?

Porque Deus é amor, quando verdadeiramente amamos participamos no «SER» de Deus e, por isso, estamos dispostos a fazer tudo para promover a pessoa amada.

Já amaste? Se sim, certamente terás experimentado essa força que te leva a fazer coisas loucas, incompreensíveis e inaceitáveis para as pessoas de “bom-senso”.

O Evangelho de hoje, Quinta-feira Santa, descreve-nos a atitude desconcertante de Jesus e a hostil reacção de Pedro. O discípulo compreende que Jesus inverte a lógica estabelecida ao assumir o papel de servo, lavando os pés dos apóstolos. Pedro, como todas as pessoas de «bom-senso», protesta porque não aceita a «lógica do amor». Por palavras e actos Jesus diz-nos que quem ama vai mais longe, supera regras, ultrapassa limites, surpreende a cada momento e tudo é gratuitidade (é o que fazem a maioria das mães por causa de seus filhos...). Ser discípulo de Jesus é fazer do amor regra de vida. O importante é amar. Quanto se ama tudo está bem, como dizia S. Agostinho: «Ama e faz o que quiseres...»

AMAS?

David

2005-03-13

«Lázaro, vem para fora».

Quantas vezes seria necessário libertar o Lázaro que mora em nós?

Todos nós guardamos nos arquivos da nossa memória experiências traumatizantes: mal-entendidos, apreciações injustas, sinais de desprezo por parte de outros, etc... Porque esses traumas nos fazem sofrer, evitamos a convivência com as pessoas que estão associadas a esses momentos. Com o decorrer dos anos, vai aumentado a lista daqueles com os quais nada queremos. Às vezes expressamos esse mal-estar quando dizemos que “aquela pessoa, para mim, já morreu!”

Desta forma, o nosso coração assemelha-se a um cemitério onde todos os dias/semanas, são sepultados novos irmãos. A nossa postura perante o outro, o nosso comportamento, denuncia, tantas vezes inconscientemente, a morte que caminha connosco, os Lázaros “malcheirosos” que nos tornam homens e mulheres amargos/as, ressentidos/as e intolerantes.

No Evangelho de hoje, Jesus diz: «Lázaro, vem para fora». Aquilo que parece impossível torna-se realidade: Lázaro vive de novo. Nestes dias de preparação para a grande festa dos cristãos, a Páscoa, oxalá seja também um tempo de libertação/ressurreição dos Lázaros que permanecem enterrados dentro de nós.

David

2005-03-09

Um Amor à cruz...

Eu me abandono, ó Deus, nas tuas mãos
Modela este barro, como faz o oleiro.
Dá-lhe forma, e depois, se quiseres,
esmigalha-a como foi esmigalhada a vida de João, meu irmão.
Ordena o que queres que eu faça
e o que queres que não faça.
Elogiado e humilhado, perseguido,
incompreendido e caluniado,
consolado, magoado, inútil para tudo,
só me resta dizer, a exemplo de Tua Mãe:
“Faça-se em mim segundo a Tua palavra”.

Dá-me o amor por excelência,
o amor à Cruz.
Não às cruzes heróicas,
que poderiam despertar em mim o amor próprio, a vã glória;
mas o amor às cruzes de cada dia
que se encontram na contradição,
no esquecimento, no fracasso, nos juízos errados e na indiferença,
na rejeição e no menosprezo dos outros,
no mal-estar e na doença,
nas limitações intelectuais,
e na secura, no silêncio do coração.

Só então Tu saberás que Te amo.
E isso me basta.

(Robert Kennedy)

2005-03-07

Construir...

«O Homem só se apercebe, no mundo, daquilo que em si já se encontra; mas precisa do mundo para se aperceber do que se encontra em si; para isso são, porém, necessários actividade e sofrimento».

(Hugo Von HOFMANNSTHAL)

2005-03-01

Oração

Silêncio!
A Tua “hora”
Na hora…
E no mistério orante
Do dealbar eterno
E fulgurante
Do meu lar:
“Filho, eis a Tua Mãe”.

João Luís Silva