2006-10-11

Testemunho sacerdotal – despertar vocacional

Nós os missionários/padres temos cada vez mais trabalho porque, ao mesmo tempo que diminuem os recursos humanos, multiplicam-se os campos da nossa actuação missionária e pastoral.
Para muitos de nós a jornada é longa, rareiam os momentos de paz e escasseiam os momentos de formação e oração pessoal…
Nestas condições será possível a um sacerdote ser feliz? É possível defender-se deste ritmo “stressante” da vida e compatibilizar isso com a felicidade? É possível “digerir” os desgostos humanos e pastorais sem perder a paz interior?
Muitos conseguem-no e por isso são admiráveis!
Vê-se que trabalham com fé, que se sentem apoiados por Cristo Jesus. Não são simples funcionários ou mercenários do sagrado, mas sentem-se vocacionados para a missão pastoral/missionária da Igreja. O seu trabalho e dedicação ao ministério – evangelizador, litúrgico, catequético, caritativo, comunitário – é um verdadeiro caminho de “cristificação” e, por isso, o seu maior motivo de satisfação interior e de felicidade.
É verdade que S. Paulo se sentiu, às vezes, cansado e desanimado porque as comunidades não lhe respondiam sempre segundo as suas expectativas. Contudo continuava fiel ao seu ministério e mostrava a alegria profunda que sentia na sua missão. O próprio Jesus se entristeceu pelo escasso eco que as suas palavras encontravam no seu povo. No entanto, continuou com firme decisão o seu caminho, e, na Última Ceia, mostrou que o fazia com alegria. Mais ainda, orou assim: “Que a minha alegria esteja convosco e a vossa alegria seja completa”.
Ditosos os sacerdotes que terminam a jornada pastoral cansados – muitas vezes mesmo, com mais uma desilusão pastoral às costas, sem grande esperança que o dia seguinte seja melhor – mas dispostos a continuar a semear, fazendo o bem, representando Cristo, ajudando as pessoas, porque são depositários da alegria de Cristo.
Se nos deixamos penetrar pela alegria de Cristo, que não é feita só de êxitos pastorais e missionários, mas também de esforço, mesmo que, às vezes, nos possa parecer inútil, mas sempre com a convicção de que Ele “está connosco” todos os dias e nos elegeu como seus sinais sacramentais também nos momentos mais difíceis, nada, nem ninguém nos impedirá de sermos felizes no nosso ministério.
Se olharem para nós e nos virem como sacerdotes empenhados, preparados, pobres, cansados mas felizes; felizes no que fazemos, não tenho dúvidas de que isso funcionará como um factor vocacional que interpela e convida os mais jovens a atender ao chamamento de Deus e a dedicarem a sua vida em favor dos outros no ministério missionário e sacerdotal.
Animação Vocacional
Pe. Fernando, CM

2006-10-09

A palavra "CRER - PISTEÚW" em S. João

Com a entrada em vigor do famoso tratado de Bolonha, algumas coisas mudaram profundamente, nomeadamente, a forma de avaliação. A mais curiosa foi a que o Dr. Tolentino implementou para a cadeira de escritos joaninos, da qual também faço parte. Não haverá exame final e a avaliação será contínua. Esta será feita a partir de um trabalho que cada aluno terá de realizar ao longo do semestre. Neste sentido, cada um de nós foi convidado a escolher uma palavra do Evangelho de S. João que nos parecesse essencial para uma compreensão teológica do mesmo Evangelho. Fomos ainda convidados a participar num blog, onde, todas as semanas, teremos de dar contas das pesquisas feitas por cada um sobre a palavra que escolheu.
Trascrevo a palavra que escolhi e as razões que me levaram a escolhê-la. Convidoo ainda a ler o blog da cadeira, onde poderá acompanhar de perto o trabalho realizado pelos meus restantes colegas. O blog é o seguinte: http://joaninos.blogspot.com/


A Palavra CRER no Evangelho de S. João

No seu Evangelho esta palavra/verbo ocorre 98 vezes, mais uma usada no sentido de fé (Pistós - Jo 20,27). Na 1ª carta de S. João o verbo PISTEÚW surge 7 vezes e nenhuma nas restantes cartas. No Apocalipse o verbo não aparece nenhuma vez.

Quanto às razões que me levam a pensar que esta é uma palavra que nos oferece um bom trilho para lermos e entendermos de forma correcta o Evangelho e escritos de S. João, aponto alguns aspectos:
1. Esta é uma das palavras que mais se repete nos Escritos de S. João, sobretudo, no seu Evangelho (98 vezes).
2. É usada, quase exclusivamente, no seu sentido activo e dinâmico (só uma vez é usado o termo fé, sentido passivo do termo grego Pistéuw); assim, esta palavra enquadra-se na ideia geral de movimento e transformação na qual S. João pretende introduzir o leitor, ao ler o Evangelho.
3. É uma palavra transversal a todo o Evangelho, ao contrário de muitas outras palavras que usa; não surge apenas em 3 capítulos do Evangelho: caps. 15, 18 e 21.
4. Se excluirmos o cap. 21, que dá a entender ser um acrescento ao Evangelho original, o termo aparece referenciado com especial intensidade: 2 vezes no último versículo antes da conclusão - 20,29 e 2 vezes na conclusão - 20,31. Neste sentido, parece-me de especial interesse o facto de as últimas palavras de Jesus serem estas: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20,29).

Ambrósio