2004-12-23

Coro de S. Tomás de Aquino nas ruas da cidade

Tem sido umas de iniciativas com sucesso levada a cabo por membros da paróquia de S. Tomás de Aquino em pareceria com as comunidades religiosas existentes na área: Vicentinos, S. João de Deus, Missionários do Verbo Divino e Baptistas. A iniciativa está integrada nas mil e uma acção em vista a preparação do congresso sobre a Nova Evangelização.
Cerca de 30 paroquianos, dirigidos pelo Pe. Américo dos Missionários do Verbo Divino, entoam canções de Natal de cariz popular, como “É Natal, é Natal” e “Noite Feliz”. A iniciativa principiou com um recital junto à loja do cidadão (Estrada da Luz) e prolonga-se para depois do Natal em vários locais da Paróquia.
Esta oferta aos cidadãos por parte da Paróquia de S. Tomás de Aquino foi uma das fórmulas encontradas para celebrar o Natal de uma forma solidária.
A todos aqueles que têm participado, o nosso obrigado.

David

2004-12-21

Litania para o Natal

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo

(David Mourão-Ferreira)

2004-12-11

Os números da morte (1ª parte)

É assustador e triste o relatório da UNICEF publicado nestes dias sobre O Estado Mundial das Crianças – 2005. Diz-nos o relatório que a «a infância está ameaçada», que a maioria das crianças do mundo são vitimas da pobreza, da guerra e da SIDA. Os números falam por si: uma em cada duas crianças não vive como merece. Alguns números:

Mortalidade: Em 2003, quase 11 milhões de crianças morreram no mundo antes de completarem cinco anos.
Pobreza: Quase dois mil milhões de crianças vivem em países em desenvolvimento. Do total de menores que morrem no mundo antes de atingir os cinco anos, 42 por cento vivem na região da África subsariana.
Órfãos: O número de órfãos devido à doença (particularmente a SIDA) não pára de aumentar. No relatório «Progressos para as crianças», a UNICEF alerta para o crescimento do número (15 milhões) de menores que são institucionalizados por perderem os pais.
Guerras: Desde 1990 morreram 3,6 milhões de pessoas em situações de guerra, metade destas eram crianças. Para este cenário contribuiu o início da guerra do Iraque. No início da década, 50 em cada mil menores perderam a vida neste conflito. Na República Democrática do Congo, nos últimos cinco anos, 20 mil rapazes e raparigas foram transformados em soldados.
Tráfico: 1,2 milhões de crianças são vítimas de tráfico todos os anos. São retiradas das famílias e submetidas a uma situação de escravatura. A prostituição infantil não pára de aumentar. Dois milhões, a maioria raparigas, são sexualmente exploradas. Na Indonésia, são traficadas cem mil crianças e mulheres todos os anos.
Escolaridade: Segundo o relatório sobre a Situação Mundial da Infância divulgado em 2003 pela UNICEF, existem 121 milhões de menores que não têm ainda acesso ao ensino. A esmagadora maioria vive ao sul do Sara. No ano lectivo de 2003/2004, foram fechadas 580 escolas na Palestina (Para mais detalhes, ver http://www.unicef.org/)

Como homem, como cristão, como vicentino não posso não sentir uma forte dose de incómodo e até alguns remorsos por esta situação. Sinto que é urgente fazer alguma coisa. Lembro-me daquela frase tantas vezes repetida de S. Vicente de Paulo: «amemos a Deus, amemos a Deus, mas que seja com o suor do nosso rosto e a força dos nossos braços».
Sinto que é preciso ir mais longe: que as nossas orações nos empurrem para o pé daqueles que sofrem; que sejamos, pelo menos, fomentadores na nossa sociedade de grupos de pressão que obriguem os governantes a dar mais atenção àqueles que são os mais desfavorecidos; que cada um de nós seja um João Baptista, um denunciador das «hipocrisias» da nossa sociedade; que neste advento, neste Natal não deixemos que a Boa Nova fique “entalada” nas paredes das nossas igrejas; que o Verbo se faça carne em nós, o Verbo que também assumiu ser pobre, que nos abra os olhos, inspire as nossas palavras para, sem temor, colaborarmos na construção do Reino de Deus, a sociedade que Deus quer...

David

2004-12-06

Encontro...

No definhar dos dias
A vida toldava-se
No exílio das minhas buscas.
Cada vulto emaranhava-se
Num trépido e rude contentamento
Como ciclone langoroso.
Ao longe... mas dentro
Ouvi a mensagem.
Desabotoei-me do labirinto
Como quem queima horas
E parti...
Só queria ver-Te!
Subi e contemplei...
Eras tudo!...
Neste jubilo inextinguivel
Duma pequenês faminta
Banhada de incertezas.
E fiquei
No patibulo das mudanças
Como candeia dormideira
À espera
Que as palpebras se fechassem...
Mas o sono dissipou-se
No braseiro desse convite
Incondicionável de AMOR:
"Amigo, desce depressa,
preciso de ficar em tua casa."

João Luís Silva

2004-12-04

Martinho o sapateiro

João Batista era um homem muito prático. Também o cristianismo é uma religião muito social e prática. Não diz respeito só à ligação entre mim e Deus mas à ligação entre Deus, eu e os outros.

Há uma história muito antiga acerca de um sapateiro de nome Martinho que vivia e trabalhava na cela de um velho edifício. A sua única janela, baixa que era, ainda lhe deixava ver os pés das pessoas que passavam pela rua. Martinho vivia abaixo do nível do solo. Mas, como em geral, quase todos os sapatos ou botas lhe passavam pelas mãos, ele era capaz de identificar os seus possuidores.

A vida tinha sido dura para o nosso sapateiro. Sua mulher tinha morrido deixando-o com um filho ainda pequeno. Depois, quando o menino parecia ter chegado à idade de ajudar o pai, adoeceu e morreu. Martinho ficou devastado. Ao enterrar o seu filho abandonou-se ao desespero, ao mesmo tempo que deixava a sua religião e mergulhava no álcool.

Um dia, um velho amigo veio visitá-lo. Martinho abriu-se e contou a sua triste história. Seu amigo aconselhou-o a que lesse um bocadinho dos evangelhos todos os dias, prometendo-lhe que se o fizesse a luz e a esperança voltariam de novo à sua vida.

Martinho aceitou o conselho e no fim de cada dia tirava o livro dos evangelhos da prateleira e lia um bocadinho. Ao princípio fez ideia de ler somente aos domingos mas, encontrando tanta ajuda neles, começou a lê-los todos os dias. A pouco e pouco as suas perspectivas começaram a mudar. A esperança voltou novamente aos seus olhos e ao seu coração.

Certa noite, enquanto lia, pareceu-lhe que alguém o tinha chamado: “Martinho, Martinho, olha amanhã para a rua, pois eu virei visitar-te.” Olhou para todos os lados e como não visse ninguém no seu pobre tugúrio pensou que tinha sido o Senhor que lhe tinha dirigido estas palavras.

Na manhã seguinte, ao sentar-se no seu banco para trabalhar, sentiu uma excitação enorme dentro dele. Enquanto trabalhou manteve sempre um rápido olhar na janela. Perscrutou bem todo o par de sapatos e botas que por ela passaram, procurando algum que não conhecesse ou que lhe parecesse fora do normal. Bem procurou algo de especial mas só por lá passaram os que normalmente o faziam todos os dias.

À tarde reparou num par de botas que se tinham encostado à sua janela. Eram dum velho soldado seu conhecido chamado Estêvão. Levantou-se para melhor descortinar e viu o velho a esfregar as mãos tremendo, pois fazia um frio medonho naquele dia. Martinho bem pediu a todos os seus santos que tirassem o velhote da frente da janela. Tinha medo que chegasse o prometido e ele não fosse capaz de o ver. Mas depois lembrou-se da pobreza extrema de Estêvão e de que se calhar estava assim pois nada tinha comido todo o dia. Bateu nos vidros da janela e fez sinal para que viesse abaixo até ao seu quarto. O velho soldado agradeceu-lhe encarecidamente e perante o chá e o pão que Martinho lhe serviu confessou que em dois dias nada tinha comido. Quando o velhote partiu o nosso sapateiro deu-lhe o seu segundo casaco. Como ainda tinha dois e o velhote nenhum, e o frio era enorme, resolveu que faria melhor nos ossos daquele pobre do que pendurado atrás da porta. No entanto, durante todo o tempo em que entreteve o soldado, Martinho não parou de olhar para a janela tentando identificar os sapatos e os seus donos.

Anoiteceu e Martinho parou de trabalhar e, cheio de tristeza, resolveu fechar os taipais da sua janela. Depois de comer algo , tirou da prateleira o livro dos evangelhos e, como era hábito seu, começou a lêr os evangelhos. Deparou com a seguinte passagem: ‘Vieram a João e perguntaram-lhe “Que havemos de fazer?” E ele respondeu “Quem tem dois mantos que dê um a quem não tem e quem tem que comer que faça o mesmo.”’
Martinho começou a reflectir sobre esta passagem. Compreendeu então que afinal o Senhor tinha vindo até ele na pessoa do velho Estêvão, e que ele, pobre como era, ainda tinha arranjado tempo e conforto para o acolher. O seu coração inundou-se de uma alegria como nunca tinha sentido.

Martinho já tinha recebido na sua vida Cristo pela leitura atenta que fazia dos evangelhos. Assim a segunda etapa chegou-lhe de maneira natural: a de fazer lugar na sua vida para o irmão necessitado.
O Advento urge que preparemos os caminhos do Senhor. Não há melhor preparação do que abrir os nossos corações e o nosso espírito a quem necessita de nós. A melhor maneira de encontrarmos a bondade, a paz e a felicidade é a de nos esquecermos de nós próprios e de termos o outro, o irmão, sempre no nosso pensamento e nas nossas vidas.
Adapatdo de MACcARTHY, F., in New Sunday.