Caríssimo David
É um sinal de esperança quando gente jovem continua a ter utopias e a sonhar com uma igreja verdadeiramente fraterna, em que, por exemplo, a autoridade seja mesmo um serviço, na linha daquilo que Jesus nos ensinou.
É sabido que Jesus não organizou os discípulos. Depois da Páscoa e do Pentecostes, eles sentiram que tinham de fazer alguma coisa...
A primeira forma de organização tem sabor judaico. Assim, aparece o grupo dos doze, com Pedro à cabeça, talvez porque gozava da confiança do Mestre. Quando o Evangelho ultrapassou as fronteiras de Israel, os discípulos inspiraram-se nos modelos da sociedade civil greco-romana do seu tempo e apareceram os diáconos, os presbíteros, os epíscopos...
É um estudo interessante este de como foi vista a autoridade nas comunidades cristãs durante estes séculos todos, a influência que exerceram as culturas nas quais a Igreja se foi inserindo, esquecendo, muitas vezes, o tal carácter de serviço que deve ter a autoridade, tanto na Igreja como na sociedade.
O Vaticano II deu passos em frente, querendo voltar ao pensamento de Jesus. Alguma coisa já foi corrigida. Assim, Papa abandonou a tiara, os bispos abandonaram alguns títulos profanos (por exemplo, em Coimbra, o título de bispo-conde), embora subsistam muitos títulos sem sentido (ex.mo e rev.mo, Dom, para os bispos, etc. etc.) ou, então, com o sentido de sugerir que a autoridade é mais do que um ministério...
Temos de ser bem conscientes que não é fácil encontrar critérios infalíveis para a escolha dos que devem exercer a autoridade na Igreja Universal e nas comunidades cristãs. Uma coisa é certa, assim não está bem e não corresponde ao pensamento de Jesus e dos Apóstolos. A Igreja só perde em ser vista como uma multinacional... É urgente mudar a maneira de escolher o Papa, os bispos, os párocos, mesmo correndo riscos...
Se os primeiros discípulos se inspiraram na sociedade civil do seu tempo, poderíamos, também agora, inspirar-nos nos aspectos positivos das sociedades democráticas dos tempos de hoje para escolhermos os nossos animadores, árbitros, conselheiros. Se a autoridade é um serviço, se, como diz S.Paulo, “quem deseja o episcopado, deseja uma coisa boa”, é, por exemplo, inacreditável que, no nosso caso concreto, não se peça para haver candidatos, programas...e que nos apresentem uma lista de nomes, alguns dos quais vivem num Lar de Idosos... e outros, a maior parte, que não tem condições de idade e de saúde, etc., para aceitar...
O futuro animador terá de rever esta situação concreta e todos nós, sobretudo os mais novos, devemos interessar-nos numa nova visão da autoridade na Igreja, na linha do pensamento de Jesus, até para sermos credíveis. Já era tempo de darmos exemplo à sociedade civil. Mas ainda estamos na fase de aprender com ela a democracia... Que pena!...
Parabéns, David. Continua a atirar pedras para o charco!
Um abraço
ALFA
2004-10-10
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