2006-12-07

Crer em Jesus, porquê?


S. João apresenta-nos o seu Evangelho como um caminho para a fé em Jesus. É fascinante o poder e importância que tem o verbo Crer para S. João. Aqui ficam mais algumas notas sobre o trabalho que tenho vindo a desenvolver.
Ao longo das aulas temos vindo a aperceber-nos da riqueza e centralidade que representa para S. João a fé, o crer na pessoa de Jesus. Das 241 vezes em que aparece este verbo no NT, 107 delas pertencem a S. João. Por si só, este dado é já bastante significativo.
Outro aspecto muito interessante observar, são os benefícios que aquele que crê pode obter. Neste sentido, o Evangelho apresenta-nos um conjunto de efeitos que também não é igualado por nenhum outro Evangelista. Entre outros, os efeitos mais significativos que S. João nos apresenta para aqueles que crêem em Jesus são: tornar-se Filhos de Deus (1,12); obter a vida eterna (3,15-16 e 36; 5,24; 6,40 e 47); não ser condenado (3,18); nunca ter fome ou sede (6,35); conhecer Jesus e o Pai (4,42; 6,64 e 10,38); passar da morte à vida (5,24); receber o Espírito (7,39); tornar-se “discípulo” de Jesus (8,31); ver a glória de Deus (11,40); tornar-se Filho da Luz (12,36); fazer as obras de Cristo ou ainda maiores (14,12); e, ter a vida em Seu nome (20,31).
Desta forma plurifacetada responde S. João ao leitor que, percorrendo e meditando o seu Evangelho, vai progressivamente sendo convidado a descobrir os dons que serão dados a todos os que crerem em Jesus. Crer é a porta para muitos e grandes dons que Cristo tem para oferecer...

B.

2006-12-02

O teu caminho, Pedro…

Segue o teu caminho, ó peregrino,
Há tesouros que esperam por alguém que os descubra,
Há santuários que anseiam a tua visita,
Há peregrinos que precisam da tua ajuda para prosseguirem viagem…

Segue o teu caminho, ó peregrino,
Sê companheiro do sol,
Irmão da lua,
Amante da chuva,
Cúmplice da solidão,
Semeador de sonhos,
Guarda fiel dos segredos de roteiros antigos.

Segue o teu caminho, ó peregrino,
Percorre as veredas esquecidas,
Os campos nunca percorridos,
Os atalhos que só as estrelas conhecem,
As pontes onde os apaixonados se encontram.

Segue o teu caminho, ó peregrino,
No infinito do azul do céu,
Há um espaço que só a ti te pertence,
E esse Deus que te fez sair da casa dos teus pais,
Aquele que te fez peregrino,
Há-de ser o teu guia,
Na longa viagem até à Eternidade.

Segue o teu caminho, ó peregrino!


(Daniel)

2006-11-12

Paixão segundo João


Ontem, dia de S. Martinho pela noite, sensivelmente metade dos alunos do 5º ano do curso de Teologia foram avistados no chamado “Convento das Mónicas” e imediações. Isto não é nada normal. Será que foram a um magusto ou coisa parecida!? Bom, eu estive lá e posso assegurar que não foi essa a razão!...
Na verdade, fomos convidados pelo Padre e Professor Tolentino Mendonça para assistirmos a duas peças de teatro, em exibição no já referido “Convento das Mónicas”. Metade da assembleia era composta por teólogos, o que não é nada comum acontecer!
E, afinal, qual foi a razão de tal feito? O nosso interesse, nesta iniciativa, prendeu-se, sobretudo, a uma das peças que vimos: “Paixão segundo João”. Estando nós a estudar a fundo o Evangelho de S. João, achámos enriquecedor ver e estudar a forma como Tarantino, o autor da peça, nos apresenta o mesmo Evangelho. Para quem não O conhece, é difícil (senão mesmo impossível) apreender a riqueza da peça. Para quem conhece o Evangelho, revela-se entusiasmante descobrir, ao longo de toda a peça, quais as passagens e de que forma estão a ser representados os vários momentos cruciais da Paixão de S. João. É, enfim, uma peça a não perder e que aconselho vivamente.
A outra peça: “Stabat Mater” foi um bónus com o qual nos brindaram. Também neste caso, vale a pena ver.
No final destes dois momentos, tivemos ainda a oportunidade para conversar um pouco com o responsável pela organização das peças, que nos deu preciosas pistas para a compreensão das mesmas. Embora o nome o sugira, não são peças de cariz religioso. São, isso sim, obras profanas, na medida em que se apropriam de textos usados exclusivamente no espaço do sagrado e os transformam/transportam para realidades mundanas, bem presentes na nossa sociedade. Por isso não admira que ambas as peças não possam ser vistas por quaisquer pessoas: a 1ª é para maiores de 12 anos e a 2ª para maiores de 18 anos...
Em poucas palavras: a não perder!...
Ambrósio

2006-11-05

O Amor como madamento



«Amar a Deus com todas as forças e ao próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios»
O que é que move a minha vida?

Uns dizem que o que faz o homem viver, o que dá sentido, é a busca de prazer. O desejo é o fundamento da acção, às vezes conflituosa, de cada ser humano. Outros dizem que é a procura do poder. Somos animais sedentos de protagonismo e a vida assemelha-se a um ringue em que o outro, o próximo, é meu rival, aquele que compete comigo pelo poder.
Não excluindo alguma verdade que existe nestas teorias, o motor da vida de cada crente deve ser o amor, «ágape», isto é, um amor oblativo próprio de quem é capaz de morrer para ser fonte de vida para o outro. As mães sabem bem o que isso é… E o amor é um mandamento, um dever, que deve ser vivido por cada um dos baptizados, pois só assim seremos verdadeiramente discípulos do Senhor.
David

2006-10-11

Testemunho sacerdotal – despertar vocacional

Nós os missionários/padres temos cada vez mais trabalho porque, ao mesmo tempo que diminuem os recursos humanos, multiplicam-se os campos da nossa actuação missionária e pastoral.
Para muitos de nós a jornada é longa, rareiam os momentos de paz e escasseiam os momentos de formação e oração pessoal…
Nestas condições será possível a um sacerdote ser feliz? É possível defender-se deste ritmo “stressante” da vida e compatibilizar isso com a felicidade? É possível “digerir” os desgostos humanos e pastorais sem perder a paz interior?
Muitos conseguem-no e por isso são admiráveis!
Vê-se que trabalham com fé, que se sentem apoiados por Cristo Jesus. Não são simples funcionários ou mercenários do sagrado, mas sentem-se vocacionados para a missão pastoral/missionária da Igreja. O seu trabalho e dedicação ao ministério – evangelizador, litúrgico, catequético, caritativo, comunitário – é um verdadeiro caminho de “cristificação” e, por isso, o seu maior motivo de satisfação interior e de felicidade.
É verdade que S. Paulo se sentiu, às vezes, cansado e desanimado porque as comunidades não lhe respondiam sempre segundo as suas expectativas. Contudo continuava fiel ao seu ministério e mostrava a alegria profunda que sentia na sua missão. O próprio Jesus se entristeceu pelo escasso eco que as suas palavras encontravam no seu povo. No entanto, continuou com firme decisão o seu caminho, e, na Última Ceia, mostrou que o fazia com alegria. Mais ainda, orou assim: “Que a minha alegria esteja convosco e a vossa alegria seja completa”.
Ditosos os sacerdotes que terminam a jornada pastoral cansados – muitas vezes mesmo, com mais uma desilusão pastoral às costas, sem grande esperança que o dia seguinte seja melhor – mas dispostos a continuar a semear, fazendo o bem, representando Cristo, ajudando as pessoas, porque são depositários da alegria de Cristo.
Se nos deixamos penetrar pela alegria de Cristo, que não é feita só de êxitos pastorais e missionários, mas também de esforço, mesmo que, às vezes, nos possa parecer inútil, mas sempre com a convicção de que Ele “está connosco” todos os dias e nos elegeu como seus sinais sacramentais também nos momentos mais difíceis, nada, nem ninguém nos impedirá de sermos felizes no nosso ministério.
Se olharem para nós e nos virem como sacerdotes empenhados, preparados, pobres, cansados mas felizes; felizes no que fazemos, não tenho dúvidas de que isso funcionará como um factor vocacional que interpela e convida os mais jovens a atender ao chamamento de Deus e a dedicarem a sua vida em favor dos outros no ministério missionário e sacerdotal.
Animação Vocacional
Pe. Fernando, CM

2006-10-09

A palavra "CRER - PISTEÚW" em S. João

Com a entrada em vigor do famoso tratado de Bolonha, algumas coisas mudaram profundamente, nomeadamente, a forma de avaliação. A mais curiosa foi a que o Dr. Tolentino implementou para a cadeira de escritos joaninos, da qual também faço parte. Não haverá exame final e a avaliação será contínua. Esta será feita a partir de um trabalho que cada aluno terá de realizar ao longo do semestre. Neste sentido, cada um de nós foi convidado a escolher uma palavra do Evangelho de S. João que nos parecesse essencial para uma compreensão teológica do mesmo Evangelho. Fomos ainda convidados a participar num blog, onde, todas as semanas, teremos de dar contas das pesquisas feitas por cada um sobre a palavra que escolheu.
Trascrevo a palavra que escolhi e as razões que me levaram a escolhê-la. Convidoo ainda a ler o blog da cadeira, onde poderá acompanhar de perto o trabalho realizado pelos meus restantes colegas. O blog é o seguinte: http://joaninos.blogspot.com/


A Palavra CRER no Evangelho de S. João

No seu Evangelho esta palavra/verbo ocorre 98 vezes, mais uma usada no sentido de fé (Pistós - Jo 20,27). Na 1ª carta de S. João o verbo PISTEÚW surge 7 vezes e nenhuma nas restantes cartas. No Apocalipse o verbo não aparece nenhuma vez.

Quanto às razões que me levam a pensar que esta é uma palavra que nos oferece um bom trilho para lermos e entendermos de forma correcta o Evangelho e escritos de S. João, aponto alguns aspectos:
1. Esta é uma das palavras que mais se repete nos Escritos de S. João, sobretudo, no seu Evangelho (98 vezes).
2. É usada, quase exclusivamente, no seu sentido activo e dinâmico (só uma vez é usado o termo fé, sentido passivo do termo grego Pistéuw); assim, esta palavra enquadra-se na ideia geral de movimento e transformação na qual S. João pretende introduzir o leitor, ao ler o Evangelho.
3. É uma palavra transversal a todo o Evangelho, ao contrário de muitas outras palavras que usa; não surge apenas em 3 capítulos do Evangelho: caps. 15, 18 e 21.
4. Se excluirmos o cap. 21, que dá a entender ser um acrescento ao Evangelho original, o termo aparece referenciado com especial intensidade: 2 vezes no último versículo antes da conclusão - 20,29 e 2 vezes na conclusão - 20,31. Neste sentido, parece-me de especial interesse o facto de as últimas palavras de Jesus serem estas: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20,29).

Ambrósio

2006-06-04

Pentecostes


«Sem o Espírito Santo, Deus fica longe; Cristo permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja é uma simples organização; a autoridade é um poder; a missão é propaganda; o culto, uma velharia; e o agir moral, um agir de escravos.
Mas, no Espírito, o cosmos é enobrecido pela geração do Reino; Cristo ressuscitado torna-Se presente; o Evangelho faz-se poder e vida; a Igreja realiza a comunhão trinitária; a autoridade transforma-se em serviço; a liturgia é memorial e antecipação; o agir humana é deificado»
(Atenágoras)

2006-05-09

“Augere”

Quando me perguntaram quais as expectativas para este retiro ou para este tipo de retiro não fui capaz de encontrar alguma, tanto individual como comunitária. Mas logo no final do primeiro dia dei por mim a pensar: espera aí! Isto faz-me lembrar a minha ida para o SEF (seminário em família): sem grandes expectativas, apenas o desejo de conhecer uma nova realidade… E rapidamente me vi a refazer todo o caminho vocacional até hoje (10 anos de vivência vocacional para o sacerdócio!): desde o desconhecimento sobre aquilo com que me ia deparar, passando pelas descobertas de coisas maravilhosas (as paisagens, a descoberta daqueles que caminham connosco), mas também as dificuldades: o caminho que sobe, que desce, com calor, com poluição; a mochila que pesa demasiado…tudo aspectos que me foram interrogando e me abrindo a um caminho já realizado e que, nesta semana, me ajudou a compreendê-lo um pouco melhor.
Este trajecto ajudou a descobrir que cada momento que vivi, que vivo ou viverei não pode ser avaliado de uma forma absoluta, isolada de todo o percurso. O sentido dos acontecimentos, das palavras, das companhias muitas vezes só se entendem quando chegamos ao final do primeiro, segundo ou terceiro dia de caminhada e vemos concretizado o objectivo dessa caminhada: a chegada ao final do percurso traçado!
Mas este caminho não ficou apenas pela memória do caminho vocacional feito até hoje; o caminho realizado ao lado de tantas outras pessoas, desconhecidas, de outras nacionalidades… fez-me perceber que a Igreja peregrina, da qual fazemos parte, é composta por muitas pessoas e diversas! Uma pluralidade de pedras vivas que tornam presente neste mundo Cristo vivo. Cristo que é a força de tantas pessoas, vivido já na caminhada aparentemente desconhecida e que faz a Igreja crescer no mundo.
Outro aspecto tem a ver com o simbolismo milenar deste caminho: associar-se a milhões de peregrinos que entregaram sua vida, suas dificuldades, alegrias, expectativas num percurso purificador. Tudo o que vivo não o vivo sozinho, outros o vivem ou já o viveram. Muitos dos meus passos já foram dados por outros, muitas das minhas dificuldades, alegrias, expectativas já foram vividas por outros. Vivências não só de hoje, mas de todo um milénio! O cristão faz parte de uma família, tem os mesmos problemas. Pode, no exemplo, na memória dos outros, encontrar respostas para o caminho que traçou e que procura atingir com menos dificuldade.
Por fim o dia do encontro (chegada a Santiago): o encontro com o Verdadeiro Cristo, real, presente na Eucaristia. O caminho não pode ter outro sentido: caminho de encontro com Cristo. O cristão vive já esse encontro, embora não definitivo, na Eucaristia. Esta caminhada ajuda, sem dúvida, a compreender esta dimensão cristã de caminho terreno vivido na esperança do encontro escatológico com Cristo. E aí, nesse encontro, tantas pessoas, tantas diferenças, tantas culturas, tantas nacionalidades… mas todos reunidos à volta da mesma realidade que nos move: Jesus Cristo.
O caminho «faz crescer» (augere), amadurecer, tornar cada um de nós mais fortes e conscientes da identidade que assumimos com o nosso baptismo e que, constantemente actualizamos… caminhar quer dizer crescer, construir, fazer comunidade.
Passado quase um mês, talvez já sem os fervores da caminhada ou da nostalgia, fica aqui a reflexão de alguém que está no alto do monte e olha para traz com olhos capazes de encarar o futuro com a esperança de que o verbo «fazer crescer» não é uma “bolha” no pé. Mas o rosto do alimento que nos fortalece e nos ajuda a superar as dificuldades do cansaço, da chuva, do sol, do vento: Cristo, o Bom Pastor!

Pedro Guimarães

2006-05-07

Mensagem do Papa Bento XVI para a semana das vocações

Ó Pai, faz surgir entre os cristãos
numerosas e santas vocações
ao sacerdócio,
que mantenham viva a fé
e conservem a grata
memória do teu Filho Jesus
mediante a pregação da sua palavra
e a administração dos Sacramentos,
com os quais tu renovas
continuamente os teus fiéis.

Concede-nos ministros santos
do teu altar,
Que sejam atentos e fervorosos
guardas da Eucaristia,
Sacramento do dom supremo
de Cristo para a redenção do mundo.

Chama ministros da tua misericórdia,
que, mediante o sacramento
da Reconciliação, difundam
a alegria do teu perdão.

Faz, ó Pai, com que a Igreja
acolha com alegria as numerosas
inspirações do Espírito do teu Filho
e, dócil aos seus ensinamentos,
se preocupe com as vocações
para o ministério sacerdotal
e para a vida consagrada.

Ampara os bispos, os sacerdotes,
os diáconos, os consagrados
e todos os baptizados em Cristo,
para que cumpram fielmente
a sua missão ao serviço
do Evangelho.

Isto te pedimos
por Cristo nosso Senhor. Amém.

Maria, Rainha dos Apóstolos,
roga por nós!
Vaticano, 5 de Março de 2006

2006-04-23

A riqueza dos pobres



"No tengo oro ni plata, mas lo que tengo te doy, en Nombre de Jesus, El Cristo, te ordeno que andes"

La frase es de Pedro y los primeros testigos del Resucitado en la Puerta Formosa de Jerusalén para un cojo de nacimiento, un minusválido, un limitado.
La noche de Pascua la hemos celebrado en las tres paroquias que animamos el equipo vicentino (tres sacerdotes y tres laicos) con la presencia de un equipo de médicos de Barcelona; estos quedaron boquiabiertos con la explosión de alegria de este pueblo que no tiene oro, ni plata pero lo que tiene lo comparte en nombre de Jesucristo.
Los médicos nos recordaban y nos hacian ver el drama de la tristeza en el Occidente: los índices de suicidio y la soledad conectada por un hilo de internet... mucho oro, mucha plata... Pero nada de lo Eterno que aquí tocamos en las sonrisas, las danzas, los abrazos, los cantos... sin oro y sin plata.
Te quiero compartir y pido que tu lo compartas: el Fuego del Resucitado con el mundo que cree tener todo por el simple hecho de tener oro y plata.

Felices Pascuuas de Resurrección!

Sérgio

2006-04-17

A caminho de Santiago de Compostela


Quatro palavras para o caminho:
(Com base no livro de : GARCÍA-MOGE, J. ; TORRES PRIETO, J. A., Camino de Santiago..., 1999)


1. ADEUS: Peregrinar até ao íntimo de ti mesmo, supõe dizer adeus a certas experiência vividas que ainda condicionam os teus passos e te impendem de caminhar livremente. Para avançar, é preciso saibas despedir-te de etapas anteriores da vida que continuas a carregar inutilmente. Peregrinar dentro de ti mesmo significa deixar morrer imagens e pensamentos que te escravizam. Só assim poderás nascer de novo... Diz ADEUS

2. OLÁ: Viajar significa dizer olá a tudo o que encontras, sejam elas coisas boas ou más. Dizer olá é abrir-se à nova realidade e predispor-se a contemplar novos horizontes. Às vezes também é preciso ter coragem para dizer olá, pois é mais fácil fechar os olhos, tapar os ouvidos ou desviar os passos para não se confrontar com alguma parte do caminho menos agradável. Não tenhas medo, Ele caminha contigo. Diz, serenamente, Olá...

3. SIM: Dizer sim significa reconhecer-se nas opções. Significa vincular-se, comprometer-se, aceitar os desafios, identificar-se. A viagem que empreendeste exige que esse SIM seja pronunciado com convicção, como quem está determinado a prosseguir o caminho. Dizer sim, significa também comprometeres-te com o que és e responsabilizar-te pelo rumo que decidiste dar à tua viagem. Significa ser fiel a ti mesmo. Diz sim...

4. NÃO. Esta palavra foi posta por Deus no teu vocabulário existencial para que possas estabelecer fronteiras, para que conheças os teus limites e te afastes daquilo que te aliena e invade. Dizer não protege-te dos falsos caminhos, da tentação de abandonar a rota traçada e instalar-se em “albergues” da tua personalidade que não são fiéis ao Verdadeiro Caminho. Dizer não é ser adulto... Diz não...

2006-04-09

A paixão do(s) Inocente(s)




Na época anterior à paixão, os evangelistas apresentam Jesus como o protagonista e o motor de todos os acontecimentos. É por Sua iniciativa que os discípulos percorrem as aldeias e é por Sua causa que uma multidão vive numa atitude de procura, deixando para trás as tarefas de um quotidiano banal. Todos querem estar onde Ele está, para ouvirem a Sua mensagem e beneficiar da Sua acção. Uma e outra vez, vemo-lO a anunciar a Boa Nova, a curar os doentes, a socorrer os pobres, a perdoar os pecados, a ressuscitar dos mortos....
De repente, como que ao som de um estalar de dedos, a narrativa assume tons dramáticos. Vimos um Jesus descrito como um ser fraco, condenado à morte, a padecer de angústia. E já não é Ele que comanda a acção. Apesar de continuar a ser o centro da narrativa, permanece “passivo” e silencioso perante o mal que se impõe. Travestido de muitos nomes, é esse mal que tortura, que escarnece, que despreza, que humilha, que esmaga até à morte o silencioso Homem/Deus. Ele permanece quase todo o trágico percurso em silêncio até que, por fim, entre gemidos, se ouve a sua voz, não para condenar, mas para dizer que «tudo estava consumado!».
Em graus e épocas diferentes, esta história repete-se com alguma frequência. Irmãos anónimos, continuam a ser esmagados pela força opressora do mal.
E em cada tragédia nós desempenhamos um papel: seremos vítimas inocentes? ou uma das tantas personagens que contribuem para que essa tragédia se repita com tanta frequência?


David

2006-03-26

Mas afinal, a Páscoa não é a grande festa dos cristãos?

O que vou aqui partilhar tem pouco ou nada a ver com a Quaresma, enquanto caminho de preparação para a Páscoa. Ou, visto de outra perspectiva, se calhar até tem... Refiro-me a um dos muitos assuntos interessantes que abordamos numa das cadeiras que temos na Universidade.
Numa das últimas aulas o professor “quase” pôs em questão a importância primordial que tem e representa para nós a celebração da Páscoa... Não se trata de nenhuma heresia... De facto, simplesmente nos chamou à atenção para a importância fundamental que chegou a ter uma outra celebração cristã, em determinado momento da história da Igreja, talvez a mais importante de toda a cristandade a par da Páscoa. Que celebração ou solenidade é esta? Bom, trata-se de uma pergunta à qual não saberia responder, nem de longe nem de perto, sem esta aula a que me reporto. Sem mais rodeios, é ela a solenidade do Corpo de Deus... Pessoalmente, nunca me tinha apercebido da grande influência que esta teve para o universo cristão. A sua centralidade e importância, com o seu apogeu entre os séculos XVI e XIX, deve-se ao facto de ser entendida como a celebração da identidade cristã, invocando o triunfo do amor de Cristo pelo Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Era nela que os Cristãos se reviam como família e membros do Corpo de Cristo.
Para realmente nos apercebermos da influência desta solenidade basta recuarmos até à contemporaneidade do nosso Fundador, S. Vicente de Paulo, e à constituição, por exemplo, da “Companhia do Saint Sacrement”. O próprio S. Vicente pertenceu à mesma. O nome da companhia, que não foi escolhido ao acaso, reforça a ideia atrás referida acerca da importância da solenidade do Corpo de Deus como a grande celebração da identidade cristã; o seu objectivo era a defesa de um rei católico para França, face ao avanço do protestantismo ou huguenotes. Ao mesmo tempo surgem alguns Institutos centrados na adoração ao Santíssimo Sacramento; até mesmo nas aparições de Fátima é possível verificar esta influência e importância, aquando da 3ª aparição do Anjo, no Outono de 1916, com um cálice e uma hóstia por cima deste, da qual pendiam gotas de sangue.
Contudo, a influência que outrora teve a solenidade do Corpo de Deus, seguramente impulsionada por factores históricos vários, foi-se esmorecendo. Exemplo disso é o facto de só Portugal manter o feriado na solenidade do Corpo de Deus. Sem dúvida que isto daria para uma boa tese de licenciatura...
A terminar, tudo isto faz-me lembrar uma pequena oração que o meu pai me ensinou, creio que antes ainda de eu iniciar a catequese, para rezar no início de cada Eucaristia: “Bendito, louvado e adorado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, fruto do ventre sagrado da Virgem puríssima Santa Maria”. Falta qualquer coisa à oração, mas no seu essencial está correcta...
Ambrósio


2006-03-12

Em passeio... – Segundo Domingo da Quaresma

«Tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu com eles sós, em particular, a um monte muito alto» (Mc 9,1)
Às vezes imagino que sou um dos discípulos do Evangelho de hoje. Com Jesus subo ao monte para descansar um pouco, para me defender do barulho da multidão que todos os dias reclama milagres e alimenta polémicas. Imagino que conversamos apaixonadamente, durante o percurso, sobre as coisas de Deus e do mundo. Imagino um Jesus verdadeiramente homem, a quem lhe falta o ar quando apressámos o passo na íngrime subida, que tem sentido de humor, que aprecia as plantas à beira do caminho, que fecha os olhos para respirar, calma e profundamente, o ar fresco perfumado pelas flores.
E os momentos que passo com Ele assemelham-se à desejada plenitude Eterna. Há uma inexplicável satisfação de estar ali, apenas por estar ali, com Ele. A certa altura, ouço, surpreendido, a Voz que se esconde na nuvem: «Guarda e anuncia a Palavra do meu amado Filho». E descubro que, com Ele, também eu, David, sou realmente Filho Amado – Pai Nosso que estás nos céus....
E desejo que esse tempo de plenitude seja, para cada um de nós, Eternidade.

David

2006-03-01

Dia de reflexão

Ao iniciarmos a Quaresma com a quarta-feira de cinzas somos convidados a reflectir na caminhada que vamos fazer.
Que “programa” e com que propósito vou eu viver esta Quaresma? Como estão dispostas as minhas mãos para acolher esse mistério que a todos vem salvar? Estou preparado para iniciar o combate espiritual a fim de purificar a consciência, o agir…
O dia de hoje, como dia de reflexão, será o dia em que construirei os alicerces desta caminhada de conversão que Jesus viveu no deserto.
Comungando da mensagem evangélica e dos princípios eclesiais para este tempo, sejamos capazes de solidificar a nossa caminhada na ascese (jejum), na oração (diálogo e escuta da Palavra de Deus) e na caridade (esmola para com a pessoa ou situação mais necessitada).
Com estes alicerces bem solidificados pela sua vivência posso olhar para o mundo actual e, ao longo destes quarenta dias, transformar o meu dia a dia em realidade de encontro com Cristo.

Crisóstomo

2006-02-12

A proximidade e o contacto

Era um homem transfigurado pela lepra. Estigmatizado e rejeitado pela sociedade, conservava um réstia de esperança no Homem que diziam ser o Messias. «Talvez Ele me pudesse salvar» - pensava.
Desejava, no fundo do seu coração, voltar a ver os filhos que tanto amava, a mulher com quem casara, a família e os amigos que, num passado longínquo, tivera de deixar. Era um condenado que não aceitava passivamente o seu destino. Ele queira viver!
Naquele dia, o leproso, ao contrário de outros tantos leprosos, tentou a sua sorte. Aproximou-se de Jesus e pediu-lhe para ser curado. Jesus, compadecido, falou com ele, tocou-o, abraçou-o e o milagre aconteceu: a lepra deixou-o.

Às vezes, tantas vezes, como no caso do leproso, a proximidade e o contacto de quem realmente ama é suficiente para salvar uma vida. Não é preciso grandes gestos... o essencial é muito pouco. Um pouco que é tudo!
Basta ser próximo e tocar.

David

2006-01-26

«O Deus que chega!»

«O Deus que chega!»

Assim, com este nome, o povo makua define as primeiras chuvas. Nós as consideramos como uma autêntica bênção de Deus.
À noite Deus nos visitou... choveu!
Estávamos à espera todos os dias; com as gentes da terra, rezávamos por esta visita em todos os encontros de oração. A terra, também o pedia. Nunca, como nesta época, as palavras do profeta: «Abre-te Céu e que desça o Salvador!» tiveram tanto realismo.

Esta experiência não passou como mais uma nas nossas vidas. A falta de água, um direito elementar de todo o ser humano, não poder ficar encurralada na causalidade de um fenómeno natural. A natureza está a passar-nos a factura, está a perguntar-nos, como Yaveh a Caim: «Onde está o teu irmão?» A nossa terra irmã está a suplicar-nos que a cuidemos para que ela nos cuide.

Nós, os que apostamos na vida, deveríamos ser os primeiros a cuidar os nossos passos, os nossos gestos e atitudes face à nossa grande casa. Estão a sujar as vestes de Deus, estão a cortar uma parte do seu vestido de festa e sem ele nunca mais poderemos celebrar a autêntica festa da vida.

Obrigado pela tua oração... agora resta-nos o desafio de semear, de não contaminar, de denunciar com coragem a inconsciência dos que apostam por outro vestido (também verde) de papel, efémero.

Quando a última árvore estiver ao ponto de cair, dar-nos-emos conta que não será possível beber dólares.

Peçamos perdão pelos nossos silêncios perante esta tragédia!

Sérgio, CM.

2006-01-16

Um pedido...


Mais uma vez, como todos os anos, estamos a viver a angústia da falta de água. Os chineses e os grandes interesses instalados em Moçambique estão a acabar com as poucas árvores que ainda restam....
Perante a força do mal, peço-te a força da oração. Apenas nos resta isso...

Obrigado pela tua oração, pedindo água para este povo,

P. Sérgio, CM, missionário em Moçambique.

2006-01-15

Vocação


«Veio então o Senhor e aproximou-Se. E chamou como das outras vezes: “Samuel, Samuel!” este respondeu: !Falai Senhor, que o vosso servo escuta”.» (1Sam 3, 19).

Há uma voz divina que não cessa de chamar pelo teu nome.
Ela desafia-te a voar mais alto e a ver o mundo com os olhos de Deus.

Levanta-te, pois, está na hora de arriscar! Porque Deus precisa de ti, da tua voz, do teu coração, da tua inteligência, da tua vontade, de tudo o que és.... precisa de ti, porque sem ti, meu irmão, Ele não Se revela no mundo.

E se Deus te chama é porque te consagrou profeta para os dias de hoje.

Levanta-te e vamos...

2006-01-10

Hino à Caridade

«A Caridade é paciente
porque suporta com serenidade as ofensas recebidas.
É benigna,
porque paga generosamente o mal com o bem.
Não é invejosa,
porque nada desejando deste mundo, não inveja os êxitos terrenos.
Não é orgulhosa,
porque, desejando só o prémio da retribuição interior, não se exalta com os bens exteriores.
Não é inconveniente,
porque, sendo o seu único objectivo o amor a Deus e ao próximo, ignora tudo o que se afasta do recto caminho (…)
Não se alegra com a injustiça
porque se empenha unicamente no amor para com todos,
Não se regozija com a ruína dos seus adversários.
Mas alegra-se com a verdade,
porque, amando os outros como a si mesma, ao ver neles a rectidão,
Alegra-se como se se tratasse da própria honra e proveito»

(S. Gregório Lib. 10, 7. 8. 10)