2006-04-09

A paixão do(s) Inocente(s)




Na época anterior à paixão, os evangelistas apresentam Jesus como o protagonista e o motor de todos os acontecimentos. É por Sua iniciativa que os discípulos percorrem as aldeias e é por Sua causa que uma multidão vive numa atitude de procura, deixando para trás as tarefas de um quotidiano banal. Todos querem estar onde Ele está, para ouvirem a Sua mensagem e beneficiar da Sua acção. Uma e outra vez, vemo-lO a anunciar a Boa Nova, a curar os doentes, a socorrer os pobres, a perdoar os pecados, a ressuscitar dos mortos....
De repente, como que ao som de um estalar de dedos, a narrativa assume tons dramáticos. Vimos um Jesus descrito como um ser fraco, condenado à morte, a padecer de angústia. E já não é Ele que comanda a acção. Apesar de continuar a ser o centro da narrativa, permanece “passivo” e silencioso perante o mal que se impõe. Travestido de muitos nomes, é esse mal que tortura, que escarnece, que despreza, que humilha, que esmaga até à morte o silencioso Homem/Deus. Ele permanece quase todo o trágico percurso em silêncio até que, por fim, entre gemidos, se ouve a sua voz, não para condenar, mas para dizer que «tudo estava consumado!».
Em graus e épocas diferentes, esta história repete-se com alguma frequência. Irmãos anónimos, continuam a ser esmagados pela força opressora do mal.
E em cada tragédia nós desempenhamos um papel: seremos vítimas inocentes? ou uma das tantas personagens que contribuem para que essa tragédia se repita com tanta frequência?


David

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