2006-03-26

Mas afinal, a Páscoa não é a grande festa dos cristãos?

O que vou aqui partilhar tem pouco ou nada a ver com a Quaresma, enquanto caminho de preparação para a Páscoa. Ou, visto de outra perspectiva, se calhar até tem... Refiro-me a um dos muitos assuntos interessantes que abordamos numa das cadeiras que temos na Universidade.
Numa das últimas aulas o professor “quase” pôs em questão a importância primordial que tem e representa para nós a celebração da Páscoa... Não se trata de nenhuma heresia... De facto, simplesmente nos chamou à atenção para a importância fundamental que chegou a ter uma outra celebração cristã, em determinado momento da história da Igreja, talvez a mais importante de toda a cristandade a par da Páscoa. Que celebração ou solenidade é esta? Bom, trata-se de uma pergunta à qual não saberia responder, nem de longe nem de perto, sem esta aula a que me reporto. Sem mais rodeios, é ela a solenidade do Corpo de Deus... Pessoalmente, nunca me tinha apercebido da grande influência que esta teve para o universo cristão. A sua centralidade e importância, com o seu apogeu entre os séculos XVI e XIX, deve-se ao facto de ser entendida como a celebração da identidade cristã, invocando o triunfo do amor de Cristo pelo Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Era nela que os Cristãos se reviam como família e membros do Corpo de Cristo.
Para realmente nos apercebermos da influência desta solenidade basta recuarmos até à contemporaneidade do nosso Fundador, S. Vicente de Paulo, e à constituição, por exemplo, da “Companhia do Saint Sacrement”. O próprio S. Vicente pertenceu à mesma. O nome da companhia, que não foi escolhido ao acaso, reforça a ideia atrás referida acerca da importância da solenidade do Corpo de Deus como a grande celebração da identidade cristã; o seu objectivo era a defesa de um rei católico para França, face ao avanço do protestantismo ou huguenotes. Ao mesmo tempo surgem alguns Institutos centrados na adoração ao Santíssimo Sacramento; até mesmo nas aparições de Fátima é possível verificar esta influência e importância, aquando da 3ª aparição do Anjo, no Outono de 1916, com um cálice e uma hóstia por cima deste, da qual pendiam gotas de sangue.
Contudo, a influência que outrora teve a solenidade do Corpo de Deus, seguramente impulsionada por factores históricos vários, foi-se esmorecendo. Exemplo disso é o facto de só Portugal manter o feriado na solenidade do Corpo de Deus. Sem dúvida que isto daria para uma boa tese de licenciatura...
A terminar, tudo isto faz-me lembrar uma pequena oração que o meu pai me ensinou, creio que antes ainda de eu iniciar a catequese, para rezar no início de cada Eucaristia: “Bendito, louvado e adorado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, fruto do ventre sagrado da Virgem puríssima Santa Maria”. Falta qualquer coisa à oração, mas no seu essencial está correcta...
Ambrósio


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