2005-03-26

Homilia de Sexta -Feira Santa

Meus queridos irmãos e irmãs
Estamos aqui reunidos, unicamente porque o amor de Deus nos une e reúne, neste mistério que hoje celebramos que é a paixão e a morte do Senhor Jesus. Por isso mesmo só o silêncio orante de quem reza faz sentido.
É perante a cruz do Filho de Deus que descobrimos, quem somos, donde vimos e para onde vamos, a cruz de Cristo diz-nos quanto valemos aos olhos de Deus, e sabemos que valemos tudo.
A leitura do Livro do profeta Isaías que escutamos, fala-nos desse: “rosto desfigurado que tinha perdido a aparência humana, acostumado ao sofrimento”. Fala-nos desse vazio, que é a vida entregue, dentro da qual Deus constrói um mundo novo, vazio de egoísmo e poder para que o amor de Deus possa vir em cheio.
Só assim percebemos, que a cruz de Cristo é para nós sinal da presença amorosa de Deus, é a chave que desvenda e ilumina os mistérios da vida, da nossa vida e do nosso dia-a-dia.
Todos nós já fizemos a experiência do Jardim das Oliveiras, do abandono da solidão. Quantas vezes nos sentimos rejeitados, maltratados e sós.
Quantas vezes clamamos: Porquê Senhor, porquê tenho de sofrer?
Porque amamos e porque Deus nos ama.
“Amar é sofrer e sofrer é Amar”.
Esta a experiência de quem caminha com Jesus e para Jesus, porque Ele próprio deu a vida por nós.
E vós pais e mães de família, bem sabeis como isso é.
Quantas vezes vos rejeitastes para vos dardes aos vossos filhos.
E vós filhos quantas vezes o fizestes pelos a vossos pais já idosos e doentes.
Foi para sofrer?
Não!
Foi por amor, foi para não ver sofrer.
Esta é a mensagem da cruz do Senhor, nela fazemos a experiência de amar e dar a vida, é ai que experimentamos que o: “Seu jugo é suave e a Sua carga é leve”, porque Ele próprio a suporta connosco.
É esta capacidade de ir mais longe de ir até ao fim, como cantávamos no Salmo 22: “Meu Deus meu Deus porque me abandonaste”. Não é sentir-se abandonado por Deus, mas é fazer a experiência de todos os abandonados, que Cristo em Si transformou em Paz e em sinal de vitória.
Meus queridos irmãos e irmãs, pelo Evangelho sabemos que junto de Jesus no Monte Calvário estavam mais dois crucificados (o bom e o mau ladrão). Esses crucificados representam a humanidade inteira, somos nós nesta capacidade de dar a vida ou de a reter.
Percebemos também que ontem como hoje, Jesus nos quer no cimo da montanha e ao Seu lado para nos dar um Reino que é Ele próprio, percebemos ainda que em cada crucificado do mundo está Jesus.
Nesta Sexta-feira Santa meus irmãos o caminho de Jesus é o caminho que se oculta na esperança, e que nos torna peregrinos, é o caminho de Maria, que do caminho do Calvário, fez caminho para o coração de seu filho e para cada um de nós, como Mãe da humanidade.
Este é o nosso caminho, caminho de comunhão e salvação, de evangelização de vida.
Meus queridos amigos mergulhados neste mistério que é a cruz do Senhor só nos resta contemplar e exclamar: “Faz-nos morrer Senhor para que possamos nascer de novo para a vida nova que és Tu.
Celebramos hoje a morte do Senhor Jesus, certamente sentimo-nos comovidos não tanto porque o Filho de Deus morreu, mas sim porque foi por nós e para nós e porque o seu: “Amor permanece para sempre”.



João Luís Silva CM
Igreja de S. Tomás de Aquino – Lisboa

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