2005-01-22

Compreender a vontade de Deus...

«Quando uma pessoa morre há muita coisa que se pode dizer sobre ela mas também há algo que nunca se deve dizer...

Na noite em que o meu filho Alex morreu, uma senhora veio-nos mostrar a sua simpatia trazendo com ela 18 quiches e dizendo com tristeza "Nunca conseguirei compreender a vontade de Deus."
Eu explodi. " Ó minha senhora! Tenho a certeza que nunca irá compreender. Então a senhora pensa que foi a vontade de Deus que fez com que o meu Alex nunca tivesse substituído a porcaria do pára-brisas, ou que fez com que ele viesse em grande velocidade durante a tempestade, ou que fez com que ele bebesse umas cervejas a mais? Ou pensa então que é a vontade de Deus que não haja luzes na estrada ou que não exista protecção na curva entre a estrada e a baía de Boston?"

Não há nada que me exaspere mais do que a incapacidade de pessoas, aparentemente inteligentes, em compreenderem que Deus não anda neste mundo com o dedo no gatilho, de navalha aberta no seu punho, ou com as suas mãos nos volantes. As mortes precoces, lentas, cheias de dor, levantam questões às quais não encontramos respostas... Nunca teremos conhecimentos suficientes para podermos afirmar que tal morte foi da vontade de Deus...

A minha única consolação resta em que acredito que não foi da vontade do Pai a morte do meu Alex; que quando as ondas do mar cobriram o automóvel, o coração de Deus foi, antes dos nossos, o primeiro coração a despedaçar-se.»

Rev. William Sloan Coffin no dia do funeral de seu filho, Alex de 24 anos de idade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Isto de compreender a vontade de Deus tem muito que se diga.... Mas gostei muito deste texto que, na sua simplicidade e dureza, revela um pouco do Mistério que é Deus.
Sónia

Anónimo disse...

O texto aborda um dos problemas mais graves para aqueles que acreditam em Deus. Claro que, se Deus existe (e eu sou dos que acreditam mesmo), Deus só pode ser bom... Sei que Ele nos criou livres e responsáveis, quer dizer, a maior parte do sofrimento poderia ser evitado se fôssemos fiéis à nosssa consciência, alicerçada na mensagem pessoal do seu Verbo... (creio ser esta a mensagem do texto do site!)...
De qualquer modo, pois, de qualquer modo, o mistério continua. Prefiro pensar, como o Salmista, que Deus é "compassivo", isto é, que Ele também sofre...que deve ter vertido lágrimas de sangue com a tragédia do tsunami, por exemplo... Se não interveio, foi porque não pôde, porque não podia... um dia haveremos de sabê-lo...
Vamos continuar a aprofundar?
A.A.

Anónimo disse...

Esta postura diante do sofrimento leva-me a deixar aqui presente a postura de Job, que a tradição biblíca nos apresenta. Somos os "amigos de Job" que entendemos a morte, os sacrifícios como vontade de Deus, ou pelo contrário, queremos chegar a um entendimento do sofrimento tal como Job? Ele encontrou resposta aos seus apelos na descoberta de um Deus pessoal que se interessa pela própria sorte do homem e que é tudo menos um deus justiceiro. o que posso dizer é que "este pai de Alex" é um dos tantos Job que andam neste mundo e que são verdadeiras testemunhas de Deus Amor.