Alice é um filme (até parece um reportagem alargada, mas sem comentários) de Marco Martins que conta a história de um casal cuja a filha, Alice, desaparece sem deixar sinal.
A mãe da desaparecida vive como uma alma penada num purgatório que a castiga por um pecado nunca cometido; o pai – um sujeito sempre vestido de preto, de olhos fundos e escuros, cabelo e barba como as noites mais escuras, tudo negro como que a indicar o estado de espírito em que vive – cumpre diariamente uma série de rituais na esperança de descobrir Alice. Grande parte do filme revela a obsessão do pai que procura desesperadamente a sua filha entre as milhares de pessoas anónimas que todos os dias percorrem a cidade de Lisboa.
Alice terá sido o filme com menos palavras que vi nos dias da minha vida. Pobre nas palavras e nas cores, lento nas sequências, mas rico em imagens e na forma de transmitir uma mensagem. Uma pobreza que é riqueza porque meio deliberadamente escolhido para dizer o que não pode ser dito por meio de palavras, mas através de expressões corporais, sobretudo do olhar e das cores das manhãs frias e cinzentas.
A banda sonora do filme também é pobre: só de tempos a tempos ouvimos um clarinete acompanhado por um piano que amplifica as dores do casal, que revela ao ouvinte o estado de «transe» em que eles se encontram.
Em Alice o espectador é contagiado pelo drama do casal. Um drama infelizmente bastante real na nosso mundo. É também contagiado pela beleza da cidade de Lisboa.
O cinema português está de parabéns!
David
2005-10-17
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1 comentário:
Já vi o filme. a falta de palavras que tu destacas sugere-nos o vazio existencial das personagem que perderam a razão para continuarem a viver. é um filme duro, mas que vale a pena... ver, apenas.
LA
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