2004-12-11

Os números da morte (1ª parte)

É assustador e triste o relatório da UNICEF publicado nestes dias sobre O Estado Mundial das Crianças – 2005. Diz-nos o relatório que a «a infância está ameaçada», que a maioria das crianças do mundo são vitimas da pobreza, da guerra e da SIDA. Os números falam por si: uma em cada duas crianças não vive como merece. Alguns números:

Mortalidade: Em 2003, quase 11 milhões de crianças morreram no mundo antes de completarem cinco anos.
Pobreza: Quase dois mil milhões de crianças vivem em países em desenvolvimento. Do total de menores que morrem no mundo antes de atingir os cinco anos, 42 por cento vivem na região da África subsariana.
Órfãos: O número de órfãos devido à doença (particularmente a SIDA) não pára de aumentar. No relatório «Progressos para as crianças», a UNICEF alerta para o crescimento do número (15 milhões) de menores que são institucionalizados por perderem os pais.
Guerras: Desde 1990 morreram 3,6 milhões de pessoas em situações de guerra, metade destas eram crianças. Para este cenário contribuiu o início da guerra do Iraque. No início da década, 50 em cada mil menores perderam a vida neste conflito. Na República Democrática do Congo, nos últimos cinco anos, 20 mil rapazes e raparigas foram transformados em soldados.
Tráfico: 1,2 milhões de crianças são vítimas de tráfico todos os anos. São retiradas das famílias e submetidas a uma situação de escravatura. A prostituição infantil não pára de aumentar. Dois milhões, a maioria raparigas, são sexualmente exploradas. Na Indonésia, são traficadas cem mil crianças e mulheres todos os anos.
Escolaridade: Segundo o relatório sobre a Situação Mundial da Infância divulgado em 2003 pela UNICEF, existem 121 milhões de menores que não têm ainda acesso ao ensino. A esmagadora maioria vive ao sul do Sara. No ano lectivo de 2003/2004, foram fechadas 580 escolas na Palestina (Para mais detalhes, ver http://www.unicef.org/)

Como homem, como cristão, como vicentino não posso não sentir uma forte dose de incómodo e até alguns remorsos por esta situação. Sinto que é urgente fazer alguma coisa. Lembro-me daquela frase tantas vezes repetida de S. Vicente de Paulo: «amemos a Deus, amemos a Deus, mas que seja com o suor do nosso rosto e a força dos nossos braços».
Sinto que é preciso ir mais longe: que as nossas orações nos empurrem para o pé daqueles que sofrem; que sejamos, pelo menos, fomentadores na nossa sociedade de grupos de pressão que obriguem os governantes a dar mais atenção àqueles que são os mais desfavorecidos; que cada um de nós seja um João Baptista, um denunciador das «hipocrisias» da nossa sociedade; que neste advento, neste Natal não deixemos que a Boa Nova fique “entalada” nas paredes das nossas igrejas; que o Verbo se faça carne em nós, o Verbo que também assumiu ser pobre, que nos abra os olhos, inspire as nossas palavras para, sem temor, colaborarmos na construção do Reino de Deus, a sociedade que Deus quer...

David

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